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10 junho 2007

Reflexões sobre O PODER DE SER HUMANO extraído do texto COMO A FILOSOFIA PODE AUXILIAR NA EDUCAÇÃO

Regis Barbier . Março 2007

  • A espécie humana é dotada, pela natureza evolutiva, de:
    1) boa disposição de observação em todos os canais sensoriais;
    2) grande capacidade integrações de estímulos;
    3) extraordinária aptidão imitativa e criativa.

  • O saber mais fundamental que o homo sapiens necessita ter para se humanizar, isto é, para se realizar como ser humano, é, sem dúvida, ter a oportunidade de aprender a reconhecer-se como é, ser verdadeiramente respeitado na sua qualidade de autonomia e criatividade.

  • Caminhar em busca de ser humano, ser de auto-conhecimento e de auto-determinação, é chegar a pôr-se no lugar de ser responsável por si mesmo:
    1) ciente da sua natureza (ser de autonomia, liberdade e responsabilidade);
    2) ciente das suas atitudes, comportamentos, sentimentos, pensamentos;
    3) em contato com os seus talentos únicos, específicos e peculiares.

  • Educar não é podar, ou treinar para um fim apontado por autoridade, tradições, conceitos antigos, determinações consensuais, políticas, etc.: isso seria 'inducar'.

  • Educar é puxar e alimentar o que vem de si. É ensinar um começo, um princípio; é auxiliar o aluno a entrar em contato consigo mesmo; com a sua origem e natureza, com o mistério de ser: estar ciente e atuante no mundo.

  • Educar é essencialmente amparar o aluno a pôr-se ativamente no lugar criativo de eterno aprendiz. Evocar uma curiosidade aberta, disposta a desafiar todos os conceitos em terreno de igualdade, respeito, amizade e confiança.

  • A habilidade suprema de ser humano é 'ser humano' simplesmente. Não é ser um 'ideal'; ou um 'mecanismo instintivo'; ou ainda um 'boneco de barro' na mão de algum deus afastado, ausente, genioso, incompreensível e essencialmente diverso em natureza, talento e estado de ser.

  • Trata-se de se tornar sapiente e hábil em si, e per si, como ser humano. Um ser de luz, sombra e escuridão; como a natureza. Um filho(a) do sol, da luz, das estrelas, do dia e da noite, do espaço-tempo. Um ser capaz e hábil para reconhecer em si todos os potenciais - para guerra, para paz, para a alegria criativa ou o fundamentalismo mais sisudo e rígido: isto é de 'bem ser' e de 'mal ser'. Um ser capaz - querendo - de escolher ser bom porque ciente e bem (auto) educado para reconhecer e entender que ser bom é bom.

  • Viver o mistério de ser portador de vida: de ser força ativa, inteligente, sensível e experimentadora; em busca de afirmação, entendimento, reconhecimento, respeito e felicidade.

  • Procurar ser bom e feliz é o melhor que se pode ser no estado de ser humano pertencente a um mundo aonde tudo se transforma, refaz e recria; tudo surge para se dissolver e ressurgir de outras formas totalmente diversas, mas da mesma arquitetura.

  • Que o caminho mais reto, a única via para realmente formar-se um 'ser humano', é ensinar que o essencial não se pode ensinar, mas de si mesmo apreender.

  • Cada um nasce depositante creditado de mais de quinze bilhões de anos de experiências naturais; além das qualidades recebidas na cultura, cada um poderá, procurando, buscando, encontrar e conectar com a herança de muitos povos e nações, com a sabedoria de muitos filósofos.

  • Cada um deverá se confrontar com escolhas. Uma delas - talvez das mais importantes - será: ir além das suas tradições, superar e enriquecer o que foi dado e aprendido como se fosse por osmose, ou não.

  • Isto é, ser portador de um archote de luz viva e nova; carregado por si, na sua mão viva e humana; ou então veiculo passivo de imagens e representações frias desenhadas por outros, em outros tempos, com outras palavras, outras classificações: antigos planos conceituais, agora incompreensíveis, ilógicos, mitificados, mal adaptados, desencarnados, como seres de outras épocas e tempo.

  • O enquadramento adequado à aprendizagem de ser humano é o circulo; num círculo não se pode colocar gente demais, massificar, diametralmente afastando os integrantes tendentes a se tornar menos visíveis, inaudíveis. No círculo todos são iguais, sabedores de que compartilham a mesma origem e destino, a mesma natureza, os mesmos ciclos vitais; a vida se aprecia como é inteiramente, nas proporções adequadas; na geometria universal das esferas. O mundo é um circulo, o horizonte também: às vezes não se sabe se a experiência vem antes dos conceitos ou se os conceitos determinam a experiência. Todos são portadores da mesma complexidade, forjada na mesma universal herança e duração; todos merecem o mesmo profundo respeito, o mesmo direito de compartilhar o que é igualmente dado pela natureza aonde o sol brilha para todos; aonde a terra não é de ninguém, mas tudo possui.

  • A filosofia pode auxiliar a entender que 'ser humano' é ser abertura impar e infinita de saber, jorrando e perfazendo através de si a graça da natureza. Que 'ser' é graça à natureza e 'humano' é por si só; bem querendo.

  • Natureza humana é conjunção livre de imperativos categóricos, porque é conjunção inteligente! E junção de um estado de 'ser' e de uma 'natureza'; de ato e coisa; de verbo e objeto.

  • Ensinar que 'ser humano' é uma sociedade indissolúvel entre a natureza cósmica e o ser: e que ser humano é bom, belo e bem. Educar só pode ser feito apoiado na filosofia verdadeira que demonstra que a escala humana é o que mais convém ao ser humano.

  • Que 'ser natureza' é reconhecer-se sem fantasias redutoras, é aceitar-se com gratidão, e ver que como natureza podemos ser benevolentes ou malvados, que escolhendo ser bom é bom, ser mal é mal. Que nesse lugar aonde todos se alimentam de todos, aonde nossos corpos e cinzas hão de alimentar os seres que nos nutrem, ser prudente, comedido, modesto, corajoso, justo, temperado e amoroso, é simplesmente 'naturalmente inteligente'.

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